terça-feira, 30 de outubro de 2012

Passo e descompasso do pensamento de duas gerações


Recentemente encontrei um cidadão que reclamava na fila de uma casa lotérica da bagunça política instalada no cenário político brasileiro devido a tantos escanda-los de corrupção. Este com seu saudosismo usava palavras fortes para expressar a sua saudade do período da Ditadura Militar instalada em nosso país através de um golpe de Estado. O retruquei dizendo a ele que hoje vivemos nessa bagunça, porque no período da Ditadura, só os militares sabiam de seus próprios escanda-los de corrupção e, a imprensa, vivia amordaçada pela censura, por isso a sua geração não sabiam de tanto como sabemos no hoje.
O nosso país como os demais da América Latina conviveu por mais de duas décadas com Ditaduras Militares devido a um projeto geopolítico desenhado estrategicamente pelos Estados Unidos da América, no intuito de manter sobre sua orbita os “países que faziam parte do seu quintal”, ou seja, uma forma de conter o avanço dos governos progressistas e de orientação socialista, período esse de rivalidade ideológica conhecida como Ordem Bipolar ou Guerra Fria, na verdade, capitalismo versus socialismo.
Ao então recente passado ditatorial faz com que o pensamento de duas gerações se confronte, uma que lutou pelo fim das ditaduras e outra que sente saudade da mordaça, da chibata e da miséria ideológica. Uma sociedade que convive com uma geração esperança, centrada seu pensamento nas bases progressistas, defesa da participação política, manutenção da democracia e sempre com o desejo ardente na alma pela solução dos graves problemas sociais acumulados.
Desde o processo de abertura política nos países latinos americanos na década de 1980 a 1990, sucederam-se momentos impares para construção de uma sociedade livre e rica em pensamentos voltados para efetivação de democracias constitucionais, na verdade, um período muito árduo para todos esses países, inclusive o Brasil, que precisava dar respostas rápidas aos desejos de justiça e igualdade social, através de ações necessárias visando transformar um país injusto no seu “bolo econômico” num país mais justo, solidário, inclusivo e atento aos anseios da expectativa de ascensão social de cada cidadão.
Mas é transparente que ainda há muito por fazer, compreender esses novos caminhos e buscar construir novos cenários com bases nas experiências concretas bem sucedidas de níveis locais. Respeitando as diferenças regionais a partir do conhecimento dos seus limites, possibilidades de desenvolvimento sustentável, bem como suas mazelas que se engendram a atrapalham o desenvolvimento. Sobretudo, o sombreamento das reais contradições numéricas sociais e das discussões políticas em torno desses problemas sociais e econômicos a serem resolvidos.
O passo e descompasso do pensamento dessas duas gerações precisam ser entendidos como um mapeamento crítico, das reflexões teóricas e do conhecimento individual acumulado, vivido na prática durante os processos históricos de cada cenário e os embates que necessário foram para afirmação dos movimentos de luta de liberdade e convivência real com um modelo de sociedade democrática.
Assim, se faz necessário que os personagens dessa nova geração conscientizem a outra geração a não sentir saudades dos temos que viviam com vendas nos olhos e ouvidos mocos, que compreenda a sua libertação da caverna e a luz puderam enxergar. Essas duas gerações precisam ser a água misturada ao vinho, para por em marcha, a construção de uma agenda inovadora, visando o fortalecimento do processo político centrado na liberdade e com base na solidariedade, como está escrito no Preâmbulo da nossa Constituição de uma geração que derramou sangue e deu a sua vida pelo retorno da democracia, com o desejo de construir uma pátria livre, justa e fraterna.

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