segunda-feira, 9 de abril de 2018

Qual será a trajetória do PT com Lula preso?

       O discurso do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva no último sábado (07/04) em frente ao sindicato dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo (SP), antes de cumprir o mandato de prisão expedido pelo juiz Sérgio Moro, revela que ele continua sendo uma grande liderança política no campo da esquerda. O homem com todo massacre que vem sofrendo da grande mídia nacional, em especial, da Rede Globo, Record, Veja, Grupo Folha, Jovem Pan etc., consegue reunir centenas de lideranças políticas da esquerda, religiosos e milhares de pessoas nas ruas pelo país afora em sua defesa, demonstrando assim, o poder do seu carisma no território político brasileiro.
         Entretanto, Lula está preso e passa a imagem simbólica para os alienados e desavisados, como sendo um grande troféu anticorrupção dado ao Brasil pelos operadores da Operação Lava-jato. Porém, os indivíduos mais conscientes sabem que não existe neutralidade política na Lava-jato, caso houvesse, o juiz Sérgio Moro não teria liberado os grampos telefônicos, em março de 2016, das conversas entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Lula, quando tratava da sua nomeação como Ministro Chefe da Casa Civil. Neste instante, o juiz Moro em vez de optar pelos autos, optou pelas manchetes da grande mídia nacional e da base de apoio anti-petista.
            No entanto, qualquer ser humano consciente e operador do direito coerente, sabe que a Constituição foi rasgada e os tramites do processo contra Lula foram atropelados. Portanto, a Operação Lava-jato pode ser considerada um assédio judicial e um atentado as instituições democráticas do Estado de Direito Democrático que estamos tentando consolidar no país após vinte anos de Ditadura Militar. Assim, a Lava-jato atinge as forças políticas de maneira desigual, demonstrado que não existe equidade política no processo de Lula e de outras lideranças petistas, mas sim, eliminação antecipada dos jogadores, ou seja, de quem vai sair primeiro do jogo político, neste caso, os da esquerda.
            Por sua vez, desde que o ex-presidente Lula se reelegeu a presidente e por duas vezes influenciou no processo político-eleitoral – sucessório – presidencial, impondo quatro derrotas seguidas as forças conservadoras do país – que representam a concentração de renda e o entreguismo das nossas riquezas, ficou demonstrado que quem tem os votos é o Lula, e não o PT. Dessa forma, ele estando fora da competição eleitoral, o outro nome que o partido indicar, poderá chegar ao segundo turno das eleições presidenciais, mas talvez, não consiga reunir a quantidade de votos necessários para chegar a ocupar o Palácio do Planalto.
            Desse modo, o PT terá que construir um projeto de curto – sobrevivência política, média – conquistas de espaços de poder nas escalas locais e regionais, e longo prazo – ampliar a representação no Congresso Nacional e voltar a ocupar o principal espaço de poder do país, ou seja, o Palácio do Planalto. Neste limiar, o partido está dividido em duas gerações: as lideranças partidárias que surgiram e se formaram politicamente durante os governos Lula e Dilma, sem espaço na máquina partidária, que convive com a velha guarda, uma geração anterior, da fundação do partido, e têm como principal objetivo, a sobrevivência política e a renovação do mandato.
       Portanto, o futuro do PT como grande partido de esquerda no território político brasileiro, parece estar na jovem guarda, projetar um futuro partidário consolidado nas escalas locais e regional. Neste caso, deixando de ser um partido apenas de movimentos sociais, para ser uma agremiação com maior representatividade nas câmaras municipais de vereadores, vice-prefeituras, prefeituras, assembléias legislativas, vice-governadorias, governos de estado, e o maior número possível, de deputados federais e senadores, para então, voltar a ocupar o principal espaço de poder do país de forma sólida, que é a presidência da República.
      Desse modo, a estratégia do PT de conquistar sua hegemonia por meio das eleições presidenciais deu errada, porque na escala local, ainda é muito forte as forças conservadoras e atrasadas do nosso país. Nesse caso, o fenômeno da ocupação do principal espaço de poder – presidência da República, não refletiu sua multiplicação na escala local e regional. Ficando provado que a estratégia do partido de dar prioridade apenas a corrida presidencial, fez com que Lula e Dilma governassem sem muita autonomia, ou seja, tiveram que conviver com um sistema político dominado por forças conservadoras e sustentado pelas elites em escala local e regional. Dessa forma, todos os avanços que tivemos a caminho de um Estado do Bem-estar Social, foram feitos com o consentimento daqueles que representa o atraso na matemática do poder.
        Para finalizar, a esquerda não pode se dividir em dois, três ou quatro polos de atração de eleitores e simpatizantes. Para derrotar o projeto neo-liberal de entreguismo das nossas riquezas as nações ricas – complexo vira-lata, que por anos exploram o Brasil e seu povo, se faz necessário que todas as forças internas do PT  se organizem a partir dos destroços deixados pela Operação Lava-jato e o Golpe Parlamentar de 2016. Do contrário, o partido cometerá o mesmo erro que cometeu com a “Carta Brasil” e com as políticas de alianças realizadas no passado com setores de direita para poder governar o país.