quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Meus verdes anos...
                A efervescência da juventude nos encoraja a travar grandes lutas em favor de um ideal. Tive a oportunidade de ser um jovem de classe média igual aos outros de minha época, ou seja, dos meus colegas de colégio ou amigos de infância, preocupado em apenas assistir aulas e tirar notas boas na prova, quem sabe até mesmo um aluno tímido, mas chamado de crânio, mais conhecido por “cdf”.
                Mas a história de vida de minha família muito me influenciou. Pois desde que os meus avos Anisberto e Cícera quando decidiram sair da pequena Serra Redonda, cidade tipicamente interiorana do brejo paraibano para residir na capital, tudo mudou repentinamente para eles e para os meus tios e tias, principalmente para o meu pai, o Severino ou Biu, como era chamado carinhosamente pelas minhas tias mais velhas Carmita, Cacilda, Gertrudes e Inês.

Igreja Matriz - Serra Redonda, Paraíba

                Meu pai, um menino que se alfabetizou com um galho de goiabeira riscando o chão. As frutas como laranja, banana e a jaca com seus caroços, lhe ensinaram a brincar com os números, que talvez o tenha levado a estudar e graduar-se na primeira turma de Economia da Universidade Federal da Paraíba que teve como professores Cláudio Santa Cruz e Celso de Paiva Leite, ambos muito influenciaram a vida acadêmica do meu pai. O homem não achou pouco e partiu para cuba em plena véspera de Golpe Militar para conhecer de perto o regime comunista de Fidel Castro e a reforma agrária, pois a economia agrária era fonte inspiradora para o Tenente Lins.


                Logo quando retornou de Cuba ao Brasil, o então deputado estadual Antonio Mariz indicou meu pai para ser delegado no município de Sapé, foco das ligas camponesas no Nordeste. A escolha do Tenente Lins se deu pelo simples fato ser um constitucionalista por natureza. Logo que chegou a Sapé, devolveu todo o corpo da guarda do destacamento e requisitou novos recrutas para fazer parte da sua nova equipe de trabalho. O município de Sapé geograficamente faz parte dos municípios da várzea do Rio Paraíba, onde até os dias de hoje, se encontra as maiores usinas de cana-de-açúcar do Estado da Paraíba que deram lugar aos tradicionais engenhos do passado, dos idos da colonização. Nesse ambiente rico de tradição, existia um conflito entre o Grupo da Várzea e os camponeses pobres.


                Nesse contexto político descrito e que a história não me deixa trair a veracidade dos fatos. Pois a forte influência do deputado estadual Assis Lemos, João Pedro Teixeira e do Nego Fuba a época junto aos camponeses, mais a rivalidade crescente a cada dia que se passava contra o grupo político Ribeiro Coutinho e da várzea do Paraíba, detentores da maioria das terras as margens do Rio Paraíba. Não atentaram em fazer previamente o levantamento da história do Tenente Lins. Assim, com a chegada do novo delegado e o pecado dos usineiros da região em não ter feito tal levantamento, ocorreu que no primeiro sábado do seu plantão como delegado, chegou um jipe da usina com a feira modesta para todos os soldados e o cabo do destacamento. Junto também veio uma feira bem maior com um pouco mais de requinte destinada ao delegado, além de um pacote com uma boa soma de dinheiro. O tenente Lins se voltou para o mensageiro da usina e perguntou o motivo de tal presente? O mensageiro logo lhe falou que era comum agraciar o delegado e todo destacamento da localidade aos redores da usina!


                Na impulsividade da juventude, perguntei o desfecho da história ao meu pai, esse logo respondeu: “meu filho, mandei que o cidadão voltasse pelo mesmo caminho que lhe trouxe com tudo aquilo e dissesse ao usineiro Renato Ribeiro Coutinho que dignidade de um homem não se compra, se conquista. Que a partir daquele dia, os atos da policia seria cumprir a Lei e a Constituição, então, todos teriam que andar na linha”. Cresci ouvindo essas histórias e muitas outras do meu pai, tanto de sua boca, como dos mais velhos intelectuais, militares de sua época, políticos e até mesmo gente simples do povo.

Elisabeth Teixeira - viúva de João Pedro Teixeira

                A história do Tenente Lins desde quando vivia na clandestinidade das reuniões do Partido Comunista do Brasil que tinha como líder maior Luíz Carlos Prestes, da corrente humanista que fundou nas hostes da Policia Militar do Estado da Paraíba, esse quando exerceu a presidência da Associação Cultural José Martí – Brasil Cuba, da militância brizolista e tantas outras e outras lutas que o Tenente Lins travou e que chegou a ser o Coronel Lins, comandante geral da briosa Polícia Militar do Estado da Paraíba. Muito me influenciou e com sua mão, fez fluir nas minhas veias a intenção de ser um militante de idéias, principalmente quando ao completar meus 14 anos de idade e ganhei de presente de suas mãos, um pequeno livrinho e famoso, com o seguinte título: O Manifesto Comunista escrito por Karl Marx. Naquele momento, deixei de ser um adolescente comum, o sangue fluiu para a militância política em favor dos menos favorecidos e sempre se pautando pelo caminho do humanismo e da solidariedade.

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