quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Não vamos enterrar um homem, vamos plantá-lo!
(Parte V)
            A distância entre a capital e o município de Nova Mamoré já não era tanta. A primeira ponte da BR. 425 me deixou ainda mais encantado com a beleza da Amazônia Ocidental. Logo nos aproximamos do Distrito de Araras, antigo garimpo de ouro, com seu desaparecimento, sobrou apenas uma “currutela” de garimpo e no momento, muitos deles estão trabalhando nas madeireiras instaladas ao seu redor, construindo um novo cenário de sobrevivência econômica para o lugar.
            Não paramos, fiquei apenas pela janela do carro observando o lugar, as suas construções, as poucas pessoas sentadas em banquinhos de madeiras improvisados ao longo da BR. 425 no perímetro urbano e aqueles que estavam se dirigindo para casa de vizinhos ou pequenos comércios. Fiquei impressionado com as lagoas ao redor do lugar, sua origem na paisagem geográfica tinha uma explicação e quem logo me deu foi um passageiro que seguia viagem conosco no transporte alternativo.
            Esse personagem que não lembro o nome, logo tratou de nos contar que as tais lagoas teve origem a partir da garimpagem em busca do ouro. Muita terra teria sido retirada, formando enormes crateras, muitos barrancos caíram e matou centenas de pessoas de uma só vez, que foram enterrados em valas comuns sem identificação alguma e que muitas famílias até a presente data, esperam a volta desses que morreram trabalhando e com o sonho de ficar rico a partir das pepitas de ouro.
             O viajante como nós, aproveitou para contar um pouco de sua história de vida, nos relatando que por ali viveu no auge do garimpo. Tinha vindo do Estado da Bahia com a esperança de ficar rico, mas o garimpo é coisa do diabo, é uma falsa riqueza. Você ganha muito, mas também gasta muito pra manter a atividade garimpeira, além da gastança nos cabarés com as mulheres de vida fácil. Como essas mulheres eram poucas para muitos homens no garimpo, os garimpeiros procuravam sempre impressionar as putas promovendo rodadas de bebidas em tais casas improvisadas de diversão próximas ao garimpo.
            Assim, os garimpeiros promoviam grandes farras, gastavam quase tudo que ganhava numa noite só para bancar o maioral entre as putas e procurava sempre deitar com a melhorzinha do ambiente, essas sempre cobravam o cachê mais alto, ou seja, era disputada como galeto em leilão nas festas de Igrejas. Fora aqueles que ficavam apenas olhando e bebendo, se contendo para não gastar e tentar juntar algum dinheirinho para recomeçar sua vida, comprando um lote para investir na compra de gado, na agricultura ou colocar um comércio de varejo em alguma cidade que a atividade madeireira estivesse em efervescência, atividade essa que ajudou a construir muitas cidades, fortalecer a economia local e promover a migração interna, construindo o cenário do arco do desmatamento na região amazônica.
            Logo chegamos à ponte de ferro pertencente ao patrimônio da Estrada de Ferro Madeira Mamoré – E.F.M.M. sobre o Rio de nome Ribeirão, lugar de uma beleza que enche os olhos por conta da sua cachoeira, corredeiras, volume de água perene e a largura do Rio Madeira. O Nando não se conteve, pediu que o taxista desse uma parada na Casa do Doce que fica localizada entre a margem do rio e a Br. 425. Este desejava recordar o tempo que ficou fora em João Pessoa sem degustar as famosas cocadas, iguarias que ficavam a disposição em enormes balaios, três unidas em cada saquinho plástico, tudo na maior higiene.
            Fiquei impressionado na Casa do Doce com tantos sabores diferentes de cocadas, sai comprando todos os sabores, afinal, a variedade de sabores impressionava o freguês. Tinha cocada com castanha-do-pará, amendoim, doce de leite, coco queimado e tantas outras que a memória já me trai. Também tinha o delicioso suco de tamarindo, os diversos salgados e a deliciosa paçoca feita da farinha do buriti ou compotas de variados tipos de doces, inclusive o de buritis e camu-camu.
            No balcão perguntei à senhora que nos atendia, quem fazia as deliciosas iguarias, ela de pronto me respondeu que era ela mesma. Pelo sotaque arrastado, perguntei onde tinha nascido? Ela logo me respondeu que era natural de Patos, uma pequena cidade do interior do Estado da Paraíba. Sorri e me identifiquei como seu conterrâneo paraibano nascido na capital e tava conhecendo o lugar, ou seja, umas férias de apenas vinte dias a convites de uns amigos que estavam estudando em João Pessoa, filho de um paraibano. Terminada a Conversa seguimos viagem para Nova Mamoré.

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