sábado, 9 de julho de 2011

Um café com Paulo Roberto Matos
                Era uma manhã de domingo, fui um dos últimos convencionais da legenda humanista a permanecer no Hotel Nacional por conta de horário de vôo. Muitos outros dirigentes de Estados diferentes ao fim da Convenção Nacional já tinham partido no próprio sábado aos seus destinos. Ficou-me a opção de continuar a minha viajem no domingo, pois não retornaria a Porto velho, meu destino seria João Pessoa, minha terra natal e a escolha de varar a madrugada, é o simples fato de economia doméstica, ou seja, se tornou mais acessível à classe pobre do nosso país, viajar de avião nesse horário.
                No requintado café-da-manhã do Hotel Nacional, tive a oportunidade de papear ainda com os novos dirigentes do Pará, trocar umas idéias com Karina do Amazonas e por fim, sentar a mesa com o nosso presidente nacional do PHS, Paulo Roberto Matos. Uma oportunidade impar e rara, não por de falta atenção dispensada a minha pessoa, mas porque quando o homem aparece no café ao meio de nosso convívio, o assédio é grande, ato normal de quem faz o partido e pela oportunidade de estar perto de quem faz a grandeza do cargo.
                Ao sentar a mesa, conversamos um pouco sobre o partido em Rondônia, a conjuntura interna atual da legenda, como ter uma vida saudável para escapar das doenças modernas, a campanha que o PHS que fará pelo fim do imposto de renda para os professores, a reforma política que não poderia deixar de ser comentada e ao fim, o tema que mais tomou nosso tempo, as drogas. Entramos no assunto que mais consumiu nosso debate, quando relatei sobre minhas caminhadas diárias ao fim da tarde como receita de vencer o sedentarismo e a boa prática do exercício físico. Contei detalhes de minhas caminhadas nos dias que permaneci em Brasília e sobre as centenas de usuários de drogas pesadas, sempre sozinhas ou em grupos perambulando pelas calçadas, no entorno da Rodoviária Urbana, no estacionamento do Conic e cantos e recantos do Setor Hoteleiro Sul.
                 Falei o quanto estava estarrecido ao ver vários jovens no estacionamento do Conic em torno dos tonéis de lixo em busca de comida e enquanto isso, outros consumiam crack. A polícia chega e afugentam esses usuários do local, eles se deslocam para o Setor Hoteleiro Sul e os canteiros de plantas ornamentais que servem para embelezar a paisagem fria do concreto, são usados por esses usuários de drogas como banheiro.
                Ainda falei da conversa que tive com um jovem de apenas 23 anos, pertencente à classe média alta, este me relatou que seus pais vivem muito bem, que ele era estudante de arquitetura na Universidade Nacional de Brasília – UNB, tinha namorada e estava cursando o oitavo período quando experimentou o crack. As feições do rapaz eram de filme de horror, expressões no rosto marcadas pela sujeira, roupa surrada e suja, pele das mãos acinzentadas da sujeira e um cheiro forte por conta de falta de banho. Logo lhe perguntei se ele não teria vontade de largar as drogas ou se já teria buscado ajuda? O jovem usuário de drogas fitou os olhos em mim e me respondeu que seus pais já teriam tentado de tudo. Buscou-se as melhores clínicas, os melhores médicos, a religião, mas que partia dele a necessidade de consumir o crack, que ele não consegue largar e que era uma coisa muito forte, muito mais forte do que sua vontade de sair daquele mundo. Que ele tinha noção do mal que estaria causando a ele e a sua família, que perdeu amigos e a namorada, que só vai a casa se alimentar e pegar uns trocados para voltar às ruas. Que toda vez que retorna ao seu lar, a sua mãe entra em desespero e o seu pai apenas enche os olhos de lágrimas, lhe oferece um banho e percebe que foi vencido pelo crack.
                Ao terminar meu relato, Paulo Matos fez uma análise muito coerente e sábia, logo me disse que no Brasil a cifra de um milhão de brasileiros como dependente do crack assusta. E o pior esta acontecendo, muitos estariam partindo pro óxi, uma droga muito mais pesada que acaba rapidamente com a vida de quem a consome e o efeito é muito mais devastador para as famílias que tem um filho ou uma filha como dependentes. Que deveria observar que o caso não era de polícia, mas de implantação de políticas públicas serias para combater a pobreza, ou seja, mais investimento na área social, em educação, cultura e esporte. Paulo foi enfático quando afirmou: “os investimentos devem ser imediato, os efeitos demoram aparecer, mas para as gerações futuras essas ações refletirão positivamente”. Assim, agradeci a oportunidade de estarmos juntos, nos despedimos e ficou a promessa de vir a Rondônia participar de um dia de reflexão do PHS.

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