Antes de ser paraibano, sou
nordestino. Antes de ser nordestino, sou brasileiro. Sabe gente, meus pais
servidores públicos e com a renda da vacaria que eles possuíam, deu a chance aos três filhos de estudar nas melhores
escolas particulares de João Pessoa. A minha base sólida de ensino e aprendizagem
veio do Colégio Arquidiocesano Pio XII, ou seja, tive bons professores naquele
colegial e também, a oportunidade de aprender muito com os sermões do Padre
Marcus Augusto Trindade. Pense num homem a frente do seu tempo.
Do meu pai herdei o gosto pela leitura, ele me ensinou
a ler livros aos meus quatorze anos que nunca pensei que iria ler na minha
vida. Ele sentava comigo e tínhamos discussões calorosas. Nessas discussões,
ele aproveitava para combater meu extremismo e fanatismo dizendo: “são os impulsos
da juventude e vai chegar o tempo que você saberá ponderar”.
Minha mãe, mulher de uma grande sabedoria e coração
generoso, me abraçava e sempre me pedia para largar a política. Afirmando
sempre que a política “só tinha proporcionado perseguição à vida do meu pai”, esse
por ter ido a Cuba e logo depois, ter sido preso e perseguido pelos bajuladores
do regime militar ditatorial. Mesmo assim, chegou ao topo máximo da sua
carreira dentro da Polícia Militar do Estado da Paraíba, se tornou comandante
geral.
Ambos me ensinaram um princípio,
sonhar e perseguir meus objetivos! Meu pai quando em vida, defendia os ideais
de Luíz Carlos Prestes, Francisco Julião, Irineu Joffily, Pedro Teixeira, Nego Fubá,
Antônio Mariz, José Maranhão, José Fernandes de Lima, Wilson e Lúcia Braga, Leonel
Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva.
A Associação Cultural José Martí Brasil – Cuba com
seção na Paraíba, a qual meu pai presidiu, teve a oportunidade de receber o
poeta cubano Félix Contreras, ele que foi filho da miséria, do abandono da mãe
aos cinco anos de idade e vitima da repressão da ditadura do general Fulgêncio
Batista. Muito me marcou esse encontro, pois conversamos horas sobre movimentos
sociais, socialismo, ditadura do proletariado, das lutas dos povos
tradicionais, a exemplo dos nossos indígenas, das causas dos trabalhadores e da
juventude, marxismo, leninismo, trotskismo, capitalismo, coerência e
posicionamento político.
Nesse caso, quando caminhando nas ruas para pedir
votos, senti na carne o distanciamento das minhas raízes e da minha capacidade
de lutar pelo que acreditava. Será que me tornei uma pessoa contraditória? Será
que acordei de uma coma profunda? Olhava para o povo e me perguntava: a onde
foi parar os meus sentimentos que justifica a minha existência, as minhas bandeiras
revolucionárias que norteava a minha luta por um Brasil sem tantas
desigualdades, mais justo e solidário?
Assim, apesar de todos os erros que cometi na minha
trajetória de militância política, me coube uma profunda reflexão da minha
própria história de vida. Portanto, na década de 1990, como estudante de geografia,
vivi o sucateamento das universidades públicas. Como professor, vivenciei a
dificuldade que o pobre enfrentava para estudar e se manter em sala de aula. Observava
a dificuldade que enfrentava o cidadão para se emancipar e a dificuldade que um
produtor rural tinha para encontrar subsídios a sua produção mediante a dificuldade
de acesso ao crédito rural.
Pior de tudo nesse processo eleitoral, foi levantar um
sentimento no Brasil de separação, ao afirmar que os nordestinos não sabem votar
porque deram uma votação expressiva a Dilma. Parte da grande imprensa
conservadora do nosso país, preconceituosamente, tenta transformar o nordestino
no responsável por todas as mazelas que ocorrem no nosso país.
Mas me mostrem
qual o político nordestino brasileiro que desnacionalizou o nosso país em toda
a nossa história brasileira? Revelem-me o político nordestino que esqueceu no
seu vocabulário as palavras: gente, miséria, inclusão social, empego ou desviou
seu olhar em favor do povo e das pessoas.
Pois bem, apesar dos erros do PT, o governo
Dilma se aproxima muito mais de tudo que fazia sentido no meu passado e no que
ainda acredito, ou seja, na construção de um estado do bem estar social. Respeito
quem tem posição contrária a minha, de pensar e votar diferente ao meu voto,
mesmo desagradando a pessoas que quero bem, prefiro ser criticado por votar em
Dilma que persegue o caminho de fazer do Brasil um estado do bem estar social,
do que retroceder a época da República do Café-com-leite, que representou o
poder oligárquico, a barganha, a compra do voto, o voto de cabresto, os favores
políticos, as eleições fraudulentas, ou seja, origem de todas as mazelas do
nosso desvirtuado sistema político atual.
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