terça-feira, 27 de março de 2012

Não vamos enterrar um homem, vamos plantá-lo – Parte IX

 
Fazenda Ourucuri - Pilões/PB

         Em Nova Mamoré, na casa do Zé Renato e Socorro que nutro o maior carinho, respeito e gratidão, é comum todo fim de tarde me reservar no alpendre do terraço deitado numa rede. Esse ambiente é refugio pra mim até hoje quando chego ao meu berço rondoniense.
         Sempre deitado à rede, meus pensamentos me levam ao passado, faço perguntas a mim mesmo, questiono-me, fico matutando e querendo decifrar ou quem sabe mesmo, antecipar os caminhos preparados para mim no livro da vida.


         Mergulhei nas minhas lembranças da época de adolescente quando passava fins de semana e férias em companhia da família na Fazenda Ouricuri, propriedade adquirida pelos meus pais no início da década de 1980. A casa construída no fim do século XVIII pertencia a herdeiros de uma família tradicional do município de Pilões na Paraíba. Viviam bem enquanto cultivavam o açafrão, a castanha de caju, a pimenta do reino e a mandioca pra fazer farinha. A decadência econômica atingiu essa família quando a febre da cultura do agave tomou conta de suas terras.


         Logo que meu pai, o Coronel Lins adquiriu Ouricuri, bem em frente à casa, tinha uma casa de farinha. Como meu pai sempre foi criador de gado leiteiro da raça holandesa e do gado de solta nelore, este logo resolveu doar todo o maquinário para o departamento de história da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, campus João Pessoa.
         Na calçada da casa grande sentimos a brisa do vento o tempo todo em nossas faces. Diante da beleza do vale cavado pelo Rio Araçagi, cercado pela Serra do Espinho, com suas corredeiras e cachoeira do mesmo nome da fazenda, se faz um lugar de rara beleza. Essa casa nos tempos de adolescente fez-me assumir o lugar de vários personagens de passados o qual não vivi, mas que gostaria de ter vivido.


         Meu imaginário contemplava as belezas daquele mundo rural, um cenário que tinha o fundo musical composto pelo chocalho da vaca, o mugido do boi, o rinchado do cavalo, o berro da cabra, o cocoricó das galinhas e o zumbido das abelhas. Observava os guinés se embrenhando no capim, os patos descendo a ladeira em direção ao rio, a corrida de um ou outro camaleão que aparecia saindo do mato, a briga das lagartixas por suas presas e a noite, tinha a proteção dos gansos soltos no terreiro.
         E assim, como sempre digo: recordar é viver!

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