segunda-feira, 16 de abril de 2012

50 anos da morte de João Pedro Teixeira


Quando eu peguei na mão dele (de João Pedro Teixeira), olhei nos olhos dele cheios de terra, da terra que ele recebeu os tiros, caiu e recebeu terra nos olhos... Então eu entendi e aprendi que deveria lutar lutar pela terra. Lutar pra libertar os sem terra das mãos do latifúndio. Lutar para os sem terra terem condições de plantarem e sobreviverem na terra.
(Elizabeth Teixeira)

         No último dia 02 de abril a vanguarda esquerdista da Paraíba reunida na ONG – Memorial das Ligas Camponesas, com apoio da Prefeitura de Sapé, Governo do Estado, da Universidade Federal e Estadual, entidades representativas de trabalhadores rurais e sindicatos de classes, promoveram no município de Sapé uma justa homenagem ao líder camponês João Pedro Teixeira, morto em uma emboscada há cinquenta anos, precisamente no dia 02 de abril de 1962, tal fato marcou a história da luta pela terra na Paraíba.
         Nesse período estava em plena efervescência o movimento da Liga Camponesa na várzea do Rio Paraíba, que até os dias de hoje, seu cenário é constituído de usinas de açúcar que substituíram os engenhos do período colonial. O personagem principal de todo esse capítulo da história das lutas populares camponesas, era o homem simples que precisava sobreviver da terra e, contracenando, o dono da terra, na verdade, o latifundiário. Estes organizados na Associação dos Proprietários da Paraíba (APRA), logo mais, ficando conhecida como Liga dos Latifundiários (LILA), que exercia atividades paramilitares em defesa dos seus associados, na sua grande maioria eram proprietários de terra ao longo da várzea do Rio Paraíba, sendo os seus lideres de maiores expressão: Agnaldo Veloso Borges e Renato Ribeiro Coutinho.
         As lembranças contadas pelo meu pai ainda em vida, Severino Lins de Albuquerque, são poucas sobre esse episódio, pois o mesmo exerceu a função de delegado na cidade de Sapé nessa época de efervescência. Tentei espremer as lembranças de minha mãe Elisete, mas essa pelas consequências que meu pai sofreu e a família durante a ditadura militar, cada vez que tentamos recordar, mais resistente ela fica e nos manda esquecer-se desses fatos, mudando logo de assunto.
         Cronologicamente, é sabido que meu pai a época, ainda era tenente e, foi designado a pedido do então deputado estadual José Maranhão (PSD) ao Governador Pedro Gondim, para assumir a delegacia de Sapé. Pois no meio da farda, já era conhecido como um homem de ideias esclarecidas e constitucionalista. Chegando ele em Sapé, logo ficou sabendo que o delegado da cidade possuía regalias bancadas pelas usinas. Este desfrutava de uma casa mobiliada, um jeep, rancho e ainda tinha uma mesada semanal que ao fim do mês, era quatro vezes mais o salário de um delegado. Sabendo de imediato dessas regalias, o Tenente Lins, dispensou as regalias, pediu substituição em parte do destacamento, foi buscar apoio do juiz e do promotor da comarca local e também se tornou professor da Academia de Comércio de Sapé, por conta da sua formação em Economia e como forma de completar a sua renda.
         O segundo episódio que marcou a passagem do Tenente Lins em Sapé como delegado foi a sua entrada na fazenda do Dr. Renato Ribeiro Coutinho a procura de um camponês idoso que estava sendo espancado pelos seus capangas. A denuncia chegou à delegacia por seus familiares e logo foi feita a diligência, chegando à sede da Usina, nenhum vestígio da referia queixa foi encontrado. Mas na saída, ao passar da porteira, um trabalhador chegou e disse: o senhor é o novo delegado? O Tenente Lins logo respondeu: sou sim! Então o trabalhador exclamou: o que o senhor procura está debaixo da casa, vá lá e o senhor vai encontrar o que procura. Dando meia volta com a guarnição, o Tenente Lins novamente pediu para fazer averiguações, logo encontrando o camponês de certa idade lavado em sangue. Este foi conduzido à delegacia, a notícia correu os quatro cantos de Sapé e, logo a porta da delegacia se encheu de gente gritando o nome do Tenente Lins como herói.
         O Coronel Lins, para quem conviveu com ele, sabe que era um homem inteligente, de uma mente privilegiada, um homem de costumes simples, sem muitas vaidades e luxo. Ele sempre nos colocava esse episódio como um desafio da sua vida profissional, de um lado a Constituição da República, as Normas das Leis e o povo, do outro estava algumas forças políticas e os latifundiários. Em momento algum, esse remediou em se fazer cumprir a Lei, a sua sentença foi perder o cargo de delegado e até então ser visto como homem de farda que defendia o comunismo.
         Até a sua morte, o Coronel Lins, guardou em suas memórias a luta pela terra de João Pedro Teixeira e sua esposa Elizabeth Teixeira, Nêgo Fuba e Margarida Maria Alves, gente simples da terra, como ele mesmo dizia: “me criei vendo e participando do sofrimento desse povo, é preciso fazer algo rápido para que esse povo não deixe o campo, as cidades não vão suportar e as desgraças urbanas irão aumentar”. Achei essa frase do meu pai numa velha agenda que guardei comigo, pois tudo que ele falava, aprendi a escrever e guardar comigo.
         Assim rendo a minha homenagem ao herói João Pedro Teixeira, que pagou com a sua própria vida o preço da terra para aqueles que conseguem dela tirar o seu sustento e garantir o pão de quem dela não vive. As lutas podem ser em campos diferentes, mais o objetivo é um só! Emancipar o nosso povo tão sofrido e a maior ferramenta, é a educação!

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