segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Uirapuru piando na sua agonia

Prof. Dr. Januário Amaral

     Recém chegado em Rondônia da Paraíba, por uma mera coincidência, num evento de extensão universitária na Unir no ano de 2006, encontrei o Professor Emanuel Falcão da UFPB no auditório Paulo Freire, proferindo uma conferência sobre Educação popular. Eu sentado na plenária, a pedido do palestrante, fiquei em pé e recebi uma saudação dele e dos presentes com uma salvas de palmas.
        Após o término da Conferência do Professor Falcão, conversamos demoradamente sobre a minha escolha de transformar minhas férias, numa trajetória permanente de vida em Rondônia. Do amigo Falcão, recebi muitos conselhos e guardei comigo a seguinte frase: “Herbert, sabendo de quem você é filho, não hesite em voltar caso sentires saudades da nossa terrinha!” Nossa conversa foi interrompida e fui apresentado ao Professor Januário Amaral pelo professor Falcão, que me presenteou com seu livro Mata Virgem, Terra Prostituta que aborda o processo de colonização no PIC Sidney Girão, localizado no município de Nova Mamoré – Rondônia, situado na Faixa de Fronteira entre o Brasil e a Bolívia.
        Entretanto, após o término do evento, voltei para Nova Mamoré para lecionar nas Escolas de Linha da Amazônia e perdi o contato com o Professor Januário Amaral. Mas com o passar do tempo, criei raízes em Rondônia como professor, dirigente partidário, blogueiro, colunista no Jornal Estadão do Norte e de outros sites eletrônicos de notícias. Dessa forma, fui convidado no ano de 2011 para trabalhar como Assessor Especial na Casa Civil do Governador Confúcio Moura.
    No desempenho das minhas atividades laborais como Assessor da Casa Civil do Governador, permitiu reencontrar com o magnífico reitor da Unir, Professor Januário Amaral, para tratar de assuntos co-relacionados às relações institucionais do Governo do estado com a Universidade Federal de Rondônia. Na ocasião, lembrei ao reitor, o episódio do Professor Falcão, do livro autografado e desde então, não tivemos a oportunidade de nos encontrar. 
    Quando terminamos o dialogo institucional, fiquei mais um pouco e conversamos amistosamente sobre o crescimento espantoso da Unir, que rapidamente, tinha se tornado o terceiro orçamento do estado de Rondônia. Por sua vez, o Professor Januário Amaral cancelou toda sua agenda e ficamos conversando sobre os feitos do magnífico reitor.
          Na oportunidade, o reitor explicou a importância dos recursos do REUNI – Governo Lula e Dilma, para as universidades, em especial, para Universidade Federal de Rondônia, que estava possibilitando a transformação dos Campi da Unir em grandes canteiros de obras, concursos assegurados para professores e técnicos universitários, a criação de novos cursos de graduação e expansão dos existentes, contemplando também a estruturação de cada departamento com mobiliário e informatização. Além de prever a construção de bibliotecas, compra de acervo, mobiliário e modernização das existentes.
         Durante a nossa conversa informal, o magnífico reitor demonstrou seu entusiasmo com os Programas de Extensão Universitária como Assistência estudantil: projeto de ampliação de bolsas e estágios remunerados não obrigatórios, que dava apoio a estudantes carentes com oferta de vales transporte e vales alimentação – principalmente ele, aluno carente, que cursou a graduação e mestrado em situação de vulnerabilidade. Dessa forma, o “alojamento” e “bandejão” da USP, que possibilitou o Professor Januário Amaral ingressar e terminar o mestrado em Geografia nos ares da capital paulista.
      Lembro que neste diálogo os olhos brilhavam do Professor Januário Amaral, quando detalhou a importância da implantação do restaurante universitário com sistema de bandejão e custos acessíveis a estudantes da Unir. Com voz firme, detalhou os programas de extensão de apoio a projetos pedagógicos específicos para populações tradicionais da Amazônia (indígenas, agricultores, quilombolas e outros). Além disso, assistência aos programas sociais voltados para agricultura familiar, populações de remanescentes quilombolas, populações ribeirinhas, indígenas e outros, em escala regional.
        Contudo, passado alguns meses, alunos do Movimento Estudantil Popular Revolucionário – MEPR, DCE-Unir, alguns professores e técnicos, deflagram uma greve na UNIR no segundo semestre do ano de 2011 contra a gestão do magnífico reitor, Professor Januário Amaral, alegando que a universidade estava “suja, abandonada, sucateada e jogada às traças”. Por conseguinte, alunos do Comando de Greve foram presos pela Polícia Federal - inclusive, virou noticia em jornais escritos, eletrônicos e televisivos, portando panfletos chamando o magnífico reitor de “déspota”, “bandido” e ainda exibia um desenho com o professor Januário “sentando num vaso sanitário”. Além de pedir a “punição do reitor e de sua quadrilha”.              
       Acompanhamos a greve como jornalista e Assessor da Casa Civil do Governo o desenrolar dos fatos e a radicalização do movimento grevista, que levou a invasão do prédio da reitoria, barricada nos portões da universidade e perseguições públicas ao professor Januário Amaral, inclusive, riscaram o seu veículo particular e fizeram pichações no muro de sua residência com palavras de baixo calão. Fatos que foram a gota d’água para levar o magnífico reitor a renunciar o mandato em novembro de 2011.
      Porém, depois de todos esses anos, sou testemunha ocular que o ex- magnífico reitor, após renúncia e passar por profundos problemas psicológicos, em especial, depressões profundas, continua sofrendo agressões simbólicas por parte de alguns membros da comunidade acadêmica, em especial, estudantes ligados ao MEPR, que novamente, reacenderam o ódio, com discussões em torno da gestão do ex-reitor nas turmas de Pedagogia e outros cursos de graduação. Por conseguinte, dispararam agressões por meio de palavras de baixo calão ao professor Dr. Januário Amaral – que prefiro declinar em mencionar, quando este transitiva no ambiente da universidade – Campus de Porto Velho.
       Dessa forma, o problema estrutural não é apenas de Unir, é um fenômeno que ocorre em todas as universidades públicas do Brasil. Assim, as mazelas do passado e do presente na Universidade Federal de Rondônia, mediante a falta de investimento e cortes no orçamento da União, cria um imaginário de compreensão e falta de entendimento da parte da comunidade acadêmica da realidade enfrentada pelos gestores universitários em escala regional e nacional.
      Todavia, alunos inculcados por professores opositores dos gestores no âmbito universitário, culpam os mesmos mediante as situações de descasos, quando a bem da verdade, o maior responsável é o Ministério da Educação e do Governo Federal por não destinar recursos suficientes para sanar os problemas que surgem no cotidiano universitário.
        Desse modo, gestos e palavras contra o ex-magnífico reitor que vive recluso – situação de auto-exílio, não procede. Por conta deste imaginário calunioso criado pelo Comando de Greve da Unir que resultou na queda do reitor, permite levantar a seguinte questão: como alunos da Unir, que não conhecem e nem conheceram a trajetória de vida, acadêmica e atuação como líder-gestor universitário, nutrem sentimentos de ódio e rancor ao Professor Januário Amaral? Neste caso, só deve existir uma possível explicação, ou seja, é resultado de uma inculcação de um imaginário na mente dos alunos por alguns professores que certamente foram seus desafetos. Enquanto isso, o uirapuru que transformou a universidade em todos os sentidos, vive piando na sua agonia no ambiente hostil da Unir.

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