Causou certa indignação em determinados setores da
sociedade brasileira a construção do Porto de Mariel em Cuba financiado pelo
BNDES. Na época de sua inauguração eu afirmei que essa corrente da sociedade
brasileira estava equivocada por acreditar que o investimento se tratava de uma
aliança ideológica entre os governos petistas e a família Castro, responsável pela
ditadura na ilha. Na verdade, o empréstimo concedido a Cuba trata-se de um ato
pragmático e amplia o alcance do comércio e a área de influência do Brasil.
O
porto de Mariel é uma obra colossal e considerado tão sofisticado quanto os
maiores terminais do Caribe - os de Kingston (Jamaica) e de Freeport (Bahamas),
e terá capacidade para receber navios de carga do tipo Post-Panamax, que vão
transitar pelo Canal do Panamá após finalização da sua modernização.
O
porto de Mariel foi erguido pela Odebrecht em parceria com a cubana Quality,
custou 957 milhões de dólares, sendo 682 milhões de dólares financiados pelo
BNDES. Em contrapartida, 802 milhões de dólares investidos na obra foram gastos
no Brasil. Portanto, a obra se pagou na compra de bens e serviços comprovadamente
brasileiros. Pelos cálculos da Odebrecht, este valor gerou 156 mil empregos diretos,
indiretos e induzidos no nosso país.
Mas
existem aspectos importantes a serem analisados nessa parceria entre o Brasil e
Cuba. Nesse caso, nosso país se consolida como “parceiro econômico de primeira ordem” de
Cuba. As exportações brasileiras para a ilha quadruplicaram na última década,
chegando a 450 milhões de dólares, alçando o Brasil ao terceiro lugar na lista
de parceiros da ilha (atrás de Venezuela e China). A tendência é de alta se a
população de Cuba (de 11 milhões de pessoas), hoje alijada da economia
internacional, for considerada um mercado em potencial para empresas brasileiras.
Como
afirmou no passado o subsecretário-geral da América do Sul do Ministério das
Relações Exteriores, embaixador Antonio José Ferreira Simões: “Esse mercado só
será efetivado, entretanto, se a economia cubana deixar de funcionar em seu
modo rudimentar atual”. Portanto, a visita do presidente Barak Obama a Ilha de
Cuba e a reaproximação dos EUA com Cuba, significa dizer que o modelo econômico cubano passará por uma
“formatação”.
Desse
modo, quando o Brasil investiu no porto de Mariel, verificou-se o potencial de
buscar mercado para as empresas brasileiras. Não é à toa, portanto, que o
Brasil abriu uma nova linha de crédito, de 290 milhões de dólares, para a
implantação desta Zona Especial em Mariel. Outro aspecto importante é a
localização de Mariel. O porto está a menos de 150 quilômetros do maior mercado
do mundo, o dos Estados Unidos.
O
fim do embargo comercial dos EUA a Cuba, se torna estratégico para as
companhias brasileiras por conta de sua posição geográfica. Além disso, a
população cubana consistirá em mão de obra barata para as empresas ali
instaladas. Daí, fica completo o potencial comercial de Mariel aos olhos dos
modus operandi do capitalismo.
Diante
do exposto, o complexo vira lata por muito tempo perdurará em parte da
sociedade brasileira, ou seja, por não conseguir compreender esse tipo de ação
estratégica comercial do Brasil com países de economia tardia a exemplo da Ilha
de Cuba. Nesse caso, não percebem que o nosso país ampliará sua área de
influência nas Américas.
Mas
os EUA percebendo esse avanço do Brasil, de imediato, buscou em novembro
passado uma “atualização” no relacionamento com Cuba. Por sua vez, a reinstalação
da embaixada dos EUA na ilha, a visita de Obama e o possível fim do embargo
econômico, fará com que o Brasil siga no vácuo dos EUA com relação a ampliar
sua influência comercial como já mencionado anteriormente.
Devo
lembrar ainda que não é de hoje que o Brasil procura manter boas relações com
Cuba. As relações Brasília-Havana foram iniciada com o ex-presidente Jânio
Quadros e após o fim da Ditadura Militar no Brasil, foram reatadas em 1985 e
têm melhorado desde então. Em 1992, no governo Fernando Collor, houve uma
tentativa de trocar votos em eleições para postos em organizações
internacionais. A prática, como a Folha de S.Paulo mostrou em 2011, continuou
no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), sob o qual o Brasil também
fechou parcerias e intercâmbios com Cuba.
De fato, em 1998 o então chanceler
do governo de Fernando Henrique Crdoso, Luiz Felipe Lampreia, se encontrou com
um importante dissidente cubano, Elizardo Sánchez, algo que o governo
brasileiro parece muito distante de fazer. Pode-se, e deve-se, criticar o fato
de o Planalto sob o PT não condenar publicamente as violações de direitos
humanos da ditadura castrista, mas não se pode condenar o investimento no porto
de Mariel. Neste caso, prevaleceu o interesse nacional brasileiro e agora quem
vai tirar o maior proveito dessa ação estratégica do nosso país é os EUA. Por
outro lado, nos restará apenas a críticas dos que sofrem com o complexo de vira
lata
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