Terminado
o processo eleitoral que deu a reeleição em primeiro turno ao presidente Evo
Morales a presidência da República da Bolívia, seus opositores apontaram
fraudes, havendo um aumento do acirramento político naquele país. Por sua vez, convocada
para auditar o processe eleitoral, a Organização dos Estados Americanos (OEA), produziu
relatório afirmando que havia indícios de irregularidades nas eleições e era
preciso a realização de um segundo turno eleitoral.
Mesmo
assim, não foi o suficiente para acalmar os ânimos dos opositores que desde a
primeira hora do resultado eleitoral, acendeu uma crise política com manifestações
pedindo a renúncia do presidente reeleito Evo Morales. Opositores foram as ruas
e deram inícios a confrontos e a proliferaram atos violentos ao ponto das
Forças Armadas se aquartelaram para não reprimir as manifestações dos
opositores a Morales - expressão de solidariedade aos manifestantes de Direita.
Com
a intensificação dos confrontos e ataques a casa de Morales e residências de
familiares e aliados, além do ultimato do Comandante em Chefe das Forças
Armadas, o presidente reeleito Evo Morales de maneira sensata, preferiu
renunciar como forma de tentar uma pacificação do que expor seu povo a
violência e levar o país a uma Guerra Civil, o que nada adiantou e o país segue
dividido.
A
crise política instalada na Bolívia mediante renúncia do presidente e do vice-presidente
bem como dos possíveis nomes da Linha Sucessória sem que houvesse uma destituição
por meio Judicial ou do Parlamento, mas uma interrupção de mandatos via “uma
sugestão” de militares das Forças Armadas - procedimento inconstitucional, pode
sim, ser considerado um Golpe de Estado. Entretanto, Evo Morales renunciou à presidência,
não foi deposto do cargo, mas por mobilizações sociais urbanas de opositores
civis e mediante posicionamento das Forças Armadas antes e depois do ato de renúncia,
portanto, caracteriza que existia um Golpe de Estado em processo como sempre aconteceu
no passado naquele país andino.
Contudo,
Evo Morales errou? Sim, errou quando optou por uma quarta reeleição, contradizendo
a Constituição Boliviana, menosprezou o resultado do referendum realizado no
ano de 2016, quando o povo rejeitou a modificação da Carta Magna daquele país
para permitir reeleições consecutivas. Por conseguinte, a decisão do Tribunal
Superior Eleitoral da Bolívia de permitir que o presidente participasse do
processo eleitoral como forma de buscar sua reeleição para um quarto mandato e
a interrupção da apuração por horas da noite, somado ao relatório da OEA que
apontou irregularidades nas eleições, expos a frágil democracia boliviana.
Assim, Morales errou quando não preparou alguém do seu grupo político para
sucede-lo na presidência da Bolívia e sua conduta de permanecer como Chefe de
Estado, mesmo que seja pelo voto, sem alternância de poder, projeta uma imagem
de que o regime se encaminhava ao autoritarismo, consequentemente, instalação
de um regime totalitário de Esquerda semelhante o instalado na Venezuela.
Portanto,
devo lembrar ainda, que um Golpe de Estado pode ser de ideologia de Esquerda ou
de Direita, por sua vez, a intensidade da violência e o tipo de regime que o sucede
determina como o golpe será lembrado na memória dos protagonistas e nos livros
de História. No entanto, a crise politica na Bolívia e os confrontos entre
opositores e apoiadores de Evo Morales, paralelamente a crise política instalada
no Chile – país vizinho, somado ao acirramento político ideológico entre Esquerda
e Direita na Argentina, Uruguai, Equador, Colômbia, Peru e no Brasil, poderá
dissipar temores de que a América do Sul está voltando aos tempos sombrios e de
incertezas.