sábado, 12 de novembro de 2011

Lembranças, Pra que escrever?

Coronel Severino Lins de Albuquerque

          Demorei-me a escrever por esses dias, pois foram dias que antecederam o aniversário de vida do meu pai. Estou começando a concordar com alguns amigos que ao tentar escrever, surge a dúvida, se estar ou não estar inspirado, a fim de redigir como uma cachoeira d’água em queda livre. E estou chegando a conclusão, que quando chegamos a certo grau de maturidade, procuramos escrever sobre as nossas lembranças do passado.
            Hoje fazem dois dias que não escrevo nada, ficava remoendo na frente do computador sem saber como começar. Mais hoje foi diferente, viajei no tempo ao ficar de frente para tela e pro teclado. Logo me veio a minha mente as lembranças do meu pai, Severino Lins de Albuquerque, filho de Anisberto Lins de Albuquerque e Cícera Gonçalves de Albuquerque. Nasceu em 12 de novembro de 1930, na Fazenda Bela Vista, no Distrito de Serra Redonda, a época pertencente ao município do Ingá do Bacamarte, terra das Itacoatiara no Estado da Paraíba.
            Se meu pai estivesse vivo, estaria completando no dia de hoje (12/11/2011), 81 anos de vida entre nós, mais infelizmente, a doença o levou em 05 de julho de 2008. Ele era um homem que pautou a sua vida num desígnio de austeridade, sendo a sua história, um bom exemplo a ser seguido. Sendo um bom filho, um bom aluno, um bom pai, um bom profissional e possuía um grande espírito público. Era um homem de idéias, de lutas e de causas. Sempre estava de mãos estendidas aos amigos e familiares, que a qualquer hora do dia que precisassem ou recorressem a ele, eram gestos contínuos de solidariedade.  
            Meu pai tinha o gosto pela matemática, sentia orgulho em dizer que aprendeu a ciência exata com um galhinho de goiabeira, afirmando que como não tinha caderno, pois era um artigo de luxo, ficava praticando na areia os exercícios que a professora do grupo escolar passava no quadro. Talvez esse gosto pela matemática o tenha levado a cursar Economia na Universidade Federal da Paraíba.
            De menino matuto, se fez homem na capital, esse foi destaque nas bancas das Escolas que passou. Foi o primeiro de sua turma no Colégio Lyceu Paraibano, fazendo dele o escolhido pelos seus colegas para ser orador. O mesmo aconteceu na universidade, pois a sua dialética o distinguia dos demais, fazendo dele, um homem coeso em pensamentos e livre com as palavras, discurso que prendia os olhares e as atenções de quem o assistia.
            Meu pai quando criança teve grande influência do seu avô Manoel Gonçalves, homem de visão longe, esse foi sertanista no Estado do Grão-Pará e deixou como herança para seus filhos, a Fazenda Navio, terra que por sua extensão, se perdia de vista os seus limites. Com a experiência adquirida no comércio, como estudante, oficial da Polícia Militar do Estado da Paraíba, professor da Academia de Comércio no município de Sapé, sua breve passagem pela SUDENE. Quando jovem militou no PCB de Carlos Prestes. Na época de chumbo defendia o voto no MDB, e por fim, na década de 1990 se tornou brizolista, convicto marxista, morreu fiel aos ideais que nortearam a sua vida. Fez dele um notável pensador entre tantos que lutaram contra e pelo fim da Ditadura Militar em nosso país.
            Popularmente era conhecido como Coronel Lins, para os irmãos e minha avó Cícera, o chamava de Biu, abreviatura carinhosa do seu nome Severino. Já a minha mãe Elisete o chamava de Lins, e nós os filhos, de painho, mesmo em idade adulta. Assim, agradeço a Deus pela oportunidade do Pai e da Mãe que ele me deu. Hoje continuo a escrever sobre as minhas lembranças, afirmando sempre o bom pai que ele foi, o legado de vida que construiu para ser exemplo a ser seguido por mim, pelos meus irmãos, pelos nossos filhos, por nossos netos, tataranetos, tetranetos e gerações descendentes do nosso ramo familiar que virão num futuro bem próximo.

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