terça-feira, 8 de novembro de 2011

Greve dos estudantes na USP: as lutas já não são as mesmas!


Crédito: Rafael Prado - G1SP 

            O final da década de oitenta e inicio da década de noventa, comecei a militância política estudantil, marcando a minha adolescência e a minha escola para a política partidária. A contribuição do movimento e as lutas travadas se tornaram até os dias atuais, referência para um passado de luta.
            Sempre gostei de ler muito, isso nos fazia diferente, pois sempre busquei o amparo dos livros para construir linhas de pensamentos, centradas em eixos de reflexão, para travar debates livres, pregando o desprendimento das verdades absolutas e os dogmas marxistas, bem como as teorias anarquistas, como fontes definitivas de conhecimento e de princípios norteadores para as lutas, tanto nos campos das idéias como na prática do movimento.
            As nossas lutas eram ensaiadas em grandes debates, surgiam duvidas, questionamentos, resistências, discussões intensas, além é claro, as discordâncias. O plano das idéias e das ações fervilhava em nossas mentes. Todos com um sonho de mudar o jeito das coisas, de procurar desconstruir o mito, através do grito é “proibido proibir”. A liberdade, a democracia e o livre arbítrio, era a grande conquista da minha geração, um verdadeiro tesouro achado que muitos já davam como perdido no passado bem próximo.
            As nossas lutas eram pela implantação de grêmios estudantis, da meia entrada em cinemas, campos de futebol, teatros e a meia passagem de ônibus. Ainda tínhamos a luta pelo fim da divida externa, em defesa da Amazônia, dos povos indígenas, contra o aumento das passagens de ônibus, pela melhoria do ensino público, contra a fome, a presença do FMI nos países do Terceiro Mundo e tantas outras lutas, que para os momentos, se tornavam de grande relevância para dar os primeiros passos de uma geração, comprometida em consolidar a nossa democracia nas décadas seguintes.
            Nesse tempo era necessário que o estudante dominasse conhecimentos de Geografia, História, Filosofia, Economia e Política, além é claro, de conhecer na ponta da língua os autores como Marx, Engels, Rosa Luxemburgo, Lênin e outros pensadores que contribuía para a nossa formação intelectual. O diferencial estava em ler Eduardo Galeano, Pablo Neruda, Rousseau, Max Weber, Voltaire, Toqueville, Adam Schmitt, Quesnay, Caio Prado Júnior, Celso Furtado e mais tantos outros que me fogem a memória.
            Vejo com tristeza o ideal de luta da greve estudantil na USP, afinal, os policiais em serviço, ao prender três alunos que fumavam maconha no pátio de uma instituição pública, estavam cumprindo na verdade os preceitos constitucionais. Por conta disso, estudantes partiram para o confronto com a Polícia Militar, ocuparam a reitoria, veio à desocupação, prisões e agora, se convoca uma greve, para protestar contra a presença da Polícia Militar na Cidade Universitária. A indignação maior surge quando se ler a pauta da Assembléia Geral do DCE da USP, que segundo o site eletrônico G1, informou que decidiram que “não haveria novas ocupações ou acampamentos no campus e que o convênio entre a USP e a Polícia Militar para a segurança da Cidade Universitária deve ser revogado. Também foi votado o apoio à liberdade imediata dos estudantes e servidores detidos nesta terça, sem que sofram nenhuma retaliação administrativa, e a saída do reitor da universidade, José Grandino Rodas”.
            Analisando o novo movimento estudantil, na maior universidade pública da América Latina e se a Cidade Universitária fosse assemelhada a um município, esta seria o sétimo orçamento do país. Fazendo uma leitura sobre a análise do novo movimento estudantil, essa nova geração, que será a responsável em forjar a sociedade futura, se percebe que as ideologias, as doutrinas, as inclinações sociais, pessoais, culturais e políticas, se tornaram uma folha de caderno amassada e jogada na lixeira da sala de aula.

Nenhum comentário: