quarta-feira, 21 de setembro de 2011


Os filiados de Aluguel – Parte II

            Era um domingo, pois quando não estávamos na fazenda nos fins de semana ou visitando amigos da família no interior, meu pai, o Cel. Lins, dividia a metade do dia na granja e a outra metade, ficávamos em casa, desfrutando do maravilho almoço que minha mãe sempre fazia. Mas também era comum, passar o restante do dia na casa do meu tio Manoel Lins, que morava na frente da nossa casa. Essas visitas a casa do meu tio, me faz recorda os deliciosos quitutes preparados por tia Deodata e servidos a mesa.
            Todo encontro de família, sempre sobrava uma rodada sobre política, no âmbito estadual, a conversa girava em torno do “braguismo” ou “buritizismo”, se fosse municipal, sobrava para o cenário político de Serra Redonda, berço da família Lins de Albuquerque.
            Mas nesse dia ficou gravado em minha memória, pois o almoço de domingo contou com a presença de alguns familiares, amigos e oficiais da PM/PB mais próximo do meu pai. A conversa girou em torno do ex-arenista e ex-governador biônico Tarcisio de Miranda Burity. Esse, durante a semana em Brasília, teve a ficha de filiação abonada ao PMDB, pelo então senador Humberto Lucena (PMDB), com a finalidade de ser o candidato do partido na disputa ao governo do Estado da Paraíba em 1986.
            Daquele dia em diante, senti uma enorme diferença no entusiasmo pela política que meu pai nutria. Lembro quando ele disse não entender as surpresas do universo da política, pois o candidato natural seria o ex-deputado federal Antonio Mariz (PMDB), que perdeu a campanha ao governo do Estado da Paraíba de 1982 para Wilson Braga (PDS).
            Nesse almoço, meu pai revelou que no dia seguinte, ele mesmo procuraria o deputado federal José Targino Maranhão ou o deputado estadual José Fernandes de Lima, ambos do PMDB, para demonstrar a sua insatisfação. Afinal, desde o surgimento do MDB, ele sempre trabalhou pela legenda e não acreditava que teria sido entregue a candidatura própria ao governo do partido, ao personagem Tarcisio Burity, que até então, era o maior representante da política reacionário que por muito tempo dominou o cenário político da Paraíba.
            Meu pai quando chegou para o almoço da segunda-feira, logo disparei se ele estaria tido com pessoas do partido. Ele disse que sim e a notícia que teria tomado conta no Estado era verdadeira. Também falou sobre a revolta de muitos filiados históricos do MDB sobre o fato. Mas ele ainda soltou a seguinte pergunta: “quem iria desafiar a decisão do senador Humberto Lucena, presidente estadual da legenda e do Congresso Nacional, além de gozar da plena confiança de Ulysses Guimarães?”.
            Ainda me lembro quando meu pai balançava a cabeça sem acreditar durante o almoço, afirmando que foram vinte anos esperando por um momento de renovação e de esperança. Tempo de uma vida para ver o MDB ser governo e na primeira oportunidade, entregava os destinos da legenda, aos que foram filhotes da velha UDN, que ressurgiu na ARENA e agora vestiam a capa de progressistas.

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