sábado, 20 de agosto de 2011



Cuscuz no bafo

            Como de costume, me dirigi ao Mercado Central para tomar um café-da-manhã bem regional, regado a um bom mingau de banana com tapioca, cuscuz no bafo e ovos. Pois desde criança, me tornei um freqüentador de feira-livres, acredito que tenha adquirido esse costume de minha mãe. Era comum a ela, de quinze em quinze dias, sempre aos sábados, realizar compras no Mercado de “Oitizeiro”, localizado no Bairro de Cruz das Almas.
            O Mercado ou feira de “Oitizeiro” popularmente conhecida em João Pessoa se tornou uma opção de lazer e despertou em mim, o gosto pelo convívio com populares, de assistir as apresentações das duplas de repentistas, dos cordelistas e por fim, observar as negociações travadas entre minha mãe e os donos de bancas de frutas, verduras, temperos secos e grãos.
            Também gostava de ver aquelas rumas de abacaxi, laranja, inhame, macaxeira, cachos de banana, batata-doce, cocos secos e outros que me fogem a lembrança, espalhados no chão em cima de folhas de bananeiras ou lonas velhas de caminhão. Os gritos nas gargantas dos feirantes, cada um que gritasse mais alto e oferecesse o melhor preço, de repente se amontoava um monte de gente para conferir a promoção, as sacolas logo se enchiam, era dinheiro prá lá, e troco pra cá.
            Também gostava de passar pelo Box de minha tia Gertrudes, carinhosamente chamada na família de “tia gel”. Lá você encontrava os produtos da mercearia, as sacas de feijão, arroz, farinha, fubá, fécula de mandioca, xerém e milho para alimentar as aves domésticas, todos muito bem organizado, pesados numa balança vermelha antiga, possuía duas bandejas, em uma se colocava o produto, na outra os pesos para se determinar o tamanho da compra.
            No Box de “tia gel”, ainda poderia se comprar manteiga de garrafa, queijo coalho, doce de leite, doces de fruta, rapaduras, Maria mole, pé-de-moleque, mortadelas, polvilho e o maravilhoso queijo da manteiga. Logo quando chegava ao seu Box, depois de pedir a bênção, recebia como prêmio, uma lasca do queijo de manteiga. Gostava muito de ficar observando o seu jeitão com os clientes, todos tinha um grande carinho por ela, adorava ficar na sua companhia, pois nunca vi “tia gel” se afobar, até mesmo quando lhe causei prejuízo derrubando um saco de farinha no chão.
            A feira também serviu para despertar a minha veia para o comércio, ou seja, vi um menino vendo baladeiras, fiz com que minha mãe comprasse uma. Mas a minha não serviu pra derrubar mangas, carambolas, cajus, jambos ou matar passarinhos inocentes. Chegando em casa, a desmontei toda e fiquei observando o material utilizado, a forma como foi inventada. Percebi que poderia fazer melhor, para isso, pedi que minha mãe trazer-me do comércio, vários metros de um material sintético chamado de “soro”, aquela borrachinha que prende no braço na hora de verificar a pressão.
            Bem, passei a semana cortando galhos de goiabeiras e confeccionando minhas baladeiras para vendê-las na feira, a minha nova invenção já tinha passado nos vários testes realizados. O “soro” era melhor que a tira de borracha retirada da câmara de ar dos pneus. Bem, minha mãe ficava rindo das minhas invenções, fiquei com medo, fabriquei apenas dez e tive coragem de levá-las a feira, fiquei discretamente ao lado do Box de minha tia, as pessoas que chegavam para comprar, perguntava se a novidade estava à venda, não deu meia hora, estavam todas vendidas.
            Quando mostrei o faturamento a minha mãe, ela logo acreditou no negócio e me forneceu mais “soro”. Pensei desejava ser sócia no negócio, mas não, era uma forma de incentivar-me, afinal, minha mãe sempre foi o esteio da casa, o equilíbrio, o pendulo do nosso Lar. Também foi dessa vez, que paguei o meu prato predileto vendido na feira, cuscuz no bafo acompanhado de carne guisada com bastante batata e cenoura.

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