sábado, 12 de março de 2011

Tarcisio Burity, divagando em minhas lembranças (Parte VII)
            A nossa conversa teria assunto para vários dias, mas estava entardecendo e pessoas já esperavam para conversar com Dr. Burity, afinal, nós estávamos em seu escritório de advocacia e sempre pessoas o visitava, da pessoa mais simples, a empresários, políticos, intelectuais e pessoas do meio artístico paraibano.
            Então veio a pergunta final, pois era relacionada ao principal motivo de nossa visita em seu escritório. Olhei bem para Dr. Burity e perguntei se naquele ano ele seria candidato ao senado pelo então PFL, numa possível coligação tendo como cabeça de chapa ao governo, a deputada federal Lúcia Braga, esposa do ex-governador Wilson Braga e se teria problemas de convivência política com o grupo Braga, afinal Wilson e Burity de aliados na eleição em 1982, sendo vitoriosos nas urnas, logo veio o rompimento. Wilson ficou no PDS e Dr. Burity migrou para o PTB em meados de 1984.
            Logo Dr. Burity levantou-se, justificou que teria ficado muito tempo sentado conversando, de pé, ficou andando de um lado para o outro e disparou que a pretensão de sua parte era grande em ser candidato ao senado, afinal teria chegado o momento de dar sua contribuição a Paraíba como homem de espírito público e preocupado com os assuntos que afetam a economia do Estado, bem como dos grandes temas nacionais. Mas o episódio do Restaurante Gulliver, em que o governador Ronaldo Cunha Lima atentou contra minha vida disparando seis tiros e estou vivo por um milagre de Deus, me faz ter receio, tenho medo do que possa vir acontecer com minha família, principalmente, minha esposa e filhos, me resguardarei nessa eleição Herbert, não é o momento certo, reafirmo, temo pela minha segurança e de meus familiares.
            Naquele momento, vi a sinceridade nos olhos de Dr. Burity, de pronto disse que se mudasse de idéia, não só teria o meu voto, mas também teria o compromisso de trabalho em favor de sua candidatura. Defendi a coligação entre o PFL e PDT para vencermos as eleições de 1994 ao Governo do Estado da Paraíba e que não via na pessoa do vice-governador Cícero Lucena, que em pequeno espaço tempo assumiria o governo do Estado devido à possível renúncia de Ronaldo Cunha Lima para disputar o senado e que não via na pessoa de Cícero um político comprometido com desmandos administrativos ou mesmo com a prática de perseguição política, afinal, ele teria vindo da iniciativa privada e demonstrava possuir um perfil diferente, ou seja, um homem público mais técnico do que político, com um discurso bem moderado e conciliador.
            A eleição de 1994 seria o grande confronto entre Braguismo e o Marizismo, seria a revanche da eleição de 1982 quando o então deputado federal Antonio Mariz (MDB) perdeu a eleição para governo do Estado para o então deputado federal Wilson Braga (PDS). Seria o confronto das forças conservadores contra os progressistas, levando vantagem a candidatura de Antonio Mariz pelo PMDB ao Governo do Estado Paraíba, pois viria vitaminada pelas candidaturas ao senado dos nomes de Ronaldo Cunha Lima que iria disputar uma vaga de senado ao lado do senador Humberto Lucena que viria a reeleição.
            Já ao PDT teria o nome da deputada Lúcia Braga, com a opção de coligação com o PFL, esses indicariam o candidato a vice-governador e as duas vagas ao senado, que seria os nomes do empresário campinense Raimundo Lira candidato a reeleição e o outro nome seria o de Dr. Burity, que relutava em não ser candidato e realmente não sendo, ficando para última hora a indicação dos nomes do deputado federal campinense Evaldo Gonçalves para vice-governador na Chapa e o nome de João Agripino para o senado ao lado de Raimundo Lira.
            Depois da afirmativa de Dr. Burity, nos levantamos e logo fomos às formalidades de despedidas, afinal já teríamos recebido a negativa de pré-candidatura de Dr. Burity ao senado, o mesmo deixou bem claro que não desejaria naquela eleição ser candidato, mas que iria prepara-se para a eleição seguinte e que seu escritório estaria aberto para visita e trocas de idéias, meu pai o Cel. Lins, agradeceu a oportunidade da conversa e já seguiu em direção a porta, já a mim coube elogiar os quadros pendurados na parede com gravuras da arquitetura alemã, bem como o fundo musical ao som de Richard Wagner. Com um sorriso leve em seu rosto, Dr. Burity nos disse que seriamos sempre bem vindo para uma boa conversa, divagar as lembranças do passado e trocar idéias. Despedimos-nos e na volta conversando com meu pai o Cel. Lins sobre a visita a Dr. Burity, alertei que perderíamos a campanha e depois da eleição de 1994, seria fatal para o inicio do fim do grupo Braga, o que realmente aconteceu, fomos ao segundo turno com Mariz, perdemos a eleição tanto para o governo, bem como as duas vagas ao senado para o PMDB.

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