sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Tarcisio Burity, divagando em minhas lembranças (Parte V)
            A minha mente borbulhava pensando nos acontecimentos da grande passeata contra o aumento abusivo das passagens de ônibus e o massacre aos estudantes na Praça João Pessoa pelo Pelotão de Choque, que tinha como comandante o Tenente Kelson, filho do Cel. Marcílio Pio Chaves, adversário ferrenho do meu pai em meio à tropa da Polícia Militar, pois o mesmo chegou uma vez a dizer-me que não entendia como o Cel. Lins teria chegado ao comando geral da PM/PB, pois o mesmo era tachado de comunista e queria entender como o Exército teria concordado com a idéia louca do Governador Milton Cabral em colocar um comuna para comandar a PM.
            Tudo vinha ligeiramente a minha mente, fluía como um vulcão em erupção. O passado vinha a minha mente como se fosse um dia anterior a nossa conversa com Dr. Burity. Ali na minha frente, os dois travando uma conversa profunda sobre políticas públicas, economia, segurança, influência estrangeira naquela época sobre os jovens, seca e industrialização do Nordeste brasileiro, afinal, meu pai como economista de linha marxista, era um seguidor de Celso Furtado, pois o mesmo tinha sido auxiliar direto do grande criador da SUDENE.
            Num instante deixei de ser mero expectador da conversa entre ambos e fui quebrando o gelo, entrando no dialogo, fazendo perguntas a Dr. Burity sobre sua infância, adolescência, a vida acadêmica, o despertar pelo gosto das artes, a trajetória política e finalmente, as grandes iniciativas do seu governo cravadas em solo ardente castigado pelo sol e marcada na história da Paraíba como “obras faraônicas”, mas que por muito tempo servirá de cartão postal a quem visita o sublime torrão.
            Quando Dr. Burity terminou de narrar a sua história com uma riqueza de detalhes impressionante, não podia ser de outra forma, sempre pequei pela minha impulsividade, nunca fui homem de ficar atrás da moita, fui logo ao ponto que queria, afirmando a Dr. Burity que tinha ele como um “monstro”, que estava mais ali pela curiosidade de conhecer o homem do que mesmo a costura da aliança, descobri naquele instante quando sentei a sua frente, esse era realmente o verdadeiro sentimento em minha alma, afinal, um momento como aquele, uma oportunidade única, logo pensei, não deixaria de tratar algo que tinha acontecido em seu governo, que teria marcada minha adolescência e o início da minha militância no movimento estudantil secundarista, considerei importante saber mais detalhes do confronto entre polícia e estudantes na Praça João Pessoa pelo ex-governante.
            Naquele momento, o dia tinha deixado de ser um dia qualquer, para se tornar um dos melhores dias de minha vida, afinal, Dr. Burity era um homem muito letrado, estudado e que sabia usar bem as palavras, um dos homens mais inteligentes que já conheci nessa minha caminhada da vida, principalmente depois da imagem positiva construída por ele mesmo, trazendo a conversa relatos pessoais da sua vida com tanta precisão, lucidez e rapidez de um homem que era verdadeiro maestro com as palavras, com a formação de frases e colocação de suas idéias. O homem rapidamente cuidou de usar as palavras certas para que a partir daquele dia, Herbert Lins fosse um eterno admirador da sua figura humana, do seu espírito público, de um homem de mente privilegiada, afinal, não é todo dia que a pessoa recebe uma afirmativa de outro que lhe acha um “monstro”.
            A tarde se passava, a conversa ficando boa regada com água e cafezinho, a prosa ficou melhor na hora que fiz a afirmativa a Dr. Burity que o achava um “monstro”. Meu pai logo ficou corado, tentou tomar a palavra de sua forma diplomática e suave de tratar com assuntos delicados para remendar o mal feito do filho impulsivo. Ele pensando que receberia o meu silêncio, foi em vão, não o teve e ficou insistindo para consertar o que ele pensava um grande erro meu. Foi quando eu reafirmei pela terceira vez e Dr. Burity perguntou os motivos e as causas para a minha opinião em relação e sua pessoa com um sorriso discreto no canto da boca. Tinha chegado à hora da onça beber água, seria para mim a consagração da minha visita a um dos homens que mais marcara o cenário político paraibano, por conta das grandes realizações positivas em seu primeiro governo e a visão de futuro em seu segundo governo, pois o povo não compreendeu e lhe colocou no ostracismo político, lhe impondo duas derrotas seguidas nas urnas, quando tentou ser senador nas eleições de 1998 e 2002, ambas ao lado do ex-governador José Targino Maranhão, o Zé mestre de obras.
Brasília, 21/01/2011

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