domingo, 19 de dezembro de 2010

Tarcisio Burity, divagando em minhas lembranças (Parte III)
                        
        Saí logo cedo de casa, peguei o primeiro ônibus da manhã que saía do bairro sentido centro, não esperei a carona do meu pai, pois a minha mente só estava voltada para ação da greve e mal tinha dormido direito, a ansiedade era grande e tinha que chegar primeiro, para evitar a entrada dos estudantes nas escolas.
            O ônibus passava pela Praça da Independência, sentido Lagoa (Parque Solon de Lucena), da janela já avistei o carro de som, cedido pela CUT-PB em frente ao Colégio Marista Pio X e poucos estudantes do Colégio IPEP, Anglo, Luíz Gonzaga Burity e alguns vestidos todos de branco, que representavam a Escola de Enfermagem Santa Emília de Rodat. Misturavam-se com os alunos do Marista que chegavam e não entravam devido aos cadeados colocados pelo comando de greve nos portões da escola.
            O itinerário do ônibus seguia sua rota normal, passando pelo Lyceu Paraibano e Colégio Olivina Olivia, a concentração já era maior e o trio elétrico já fazia barulho com palavras de ordem. Chegando a Lagoa, desci do ônibus e logo segui as ruas sentido ao Largo de São Francisco, na lateral do Colégio Arquidiocesano Pio XII, estava lá como combinado, o carro de som do Sindicato dos Bancários e os alunos que se aglomeravam eram convencidos a não entrar e seguir na grande passeata programada para logo mais com a finalidade de baixar o percentual do aumento das passagens dos coletivos urbanos.
            Já eram oito horas da manhã, saímos no sentido contrário da Avenida Visconde de Pelotas, embalados nas músicas de Geraldo Vandré, Engenheiros do Havaí, Titãs e Legião Urbana. Não podiam faltar às palavras de ordem, todos seguiam a canção e as faixas pedindo o fim do aumento das passagens dos coletivos urbanos de João Pessoa.
            Nós do comando de greve vínhamos na frente da passeata, embalando a greve com as palavras de ordem e fazendo discursos, quando chegamos ao Cinema Municipal, descemos sentido a Lagoa e logo chegando ao Magazine Mesbla, vimos à grande massa de estudantes no anel interno da Lagoa. Mas para nossa surpresa, não vimos um movimento pacifista como combinado, presenciamos sim, um enorme corre-corre, pedras e paus sendo atirados em direção aos ônibus, pessoas machucadas e por fim um ônibus incendiado.
            Fiquei perplexo, logo me voltei para Adriano, pois aquele não era o cenário desejado. Estava presenciando uma verdadeira praça de guerra e não era o programado por todos nós, era preciso segurar o nosso lado para não se envolver no conflito. Logo pedimos aos demais colegas para segurar a passeata no sinal do Edifício Vina Del Mar e saímos à procura dos líderes da UJS, defrontamos logo com Bené e aos gritos dissemos que tinha que acabar com o quebra-quebra, pois o nosso movimento tinha fins reivindicatórios de conduta pacifista e nossas reivindicações cairiam por terras se providências enérgicas não fossem iniciadas para acabar com o quebra-quebra, pois a imprensa e a opinião pública ficariam contra o movimento, afinal, seriamos considerados arruaceiros, bandoleiros e baderneiros.
            Logo Bené aos gritos dizia que também não entendia o que estava acontecendo, afinal, não sabemos de onde saiu tantas pedras e pedaços de paus, estava tão perplexo como nós. A polícia já chegava timidamente e sirenes de ambulâncias já chegava aos nossos ouvidos. Então disse a ele, temos que avançar, a passeata tem que seguir, não devemos ficar parados aqui, coloca os carros de som para andar e assim foi feito, logo cruzamos o sinal do Vina Del Mar e seguimos pelo anel interno da Lagoa em direção a Praça João Pessoa.

João Pessoa, 19/12/2010.

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