domingo, 12 de dezembro de 2010

Tarcisio Burity, divagando em minhas lembranças(Parte II)

Enquanto Dr. Burity falava do gosto pelas artes, seguido das suas ações de governo, a conversa tomava corpo entre ele e meu pai, o Cel. Lins, os dois conversavam enquanto eu fiquei divagando em minhas lembranças de adolescente, da minha passagem rápida pelo movimento estudantil secundarista, da minha contribuição na primeira participação na organização de uma das maiores greves estudantil já ocorrida em João Pessoa, que teve como bandeira de luta, o aumento abusivo das passagens dos coletivos urbanos e que deu origem a SETUSA, uma das ações do segundo governo Burity em resposta ao empresariado do setor de transporte coletivo da capital paraibana.
Os dois conversando e minha memória se voltava para a escadaria de madeira do Colégio Arquidiocesano Pio XII, lá era os encontros dos rebeldes, quem comandava as reuniões era o jovem Adriano, ele tinha despertado para a política estudantil mais cedo. Ficava a ouvir a fala dos presentes, pensava primeiro, sugestionava depois. Vinham em mim os passos dados por Lênin, Trótski, Fidel, Mao Tse-tung, Lincoln e tantos outros que fizeram movimento popular e que culminou com grandes revoluções, deixando um legado na história contemporânea.
Eu pensava comigo, viver a organização de uma greve, minha mãe dizia que eu parecia tanto com meu pai, tanto em semelhança, quanto nas idéias. Realmente, seus livros, suas palavras, seus pensamentos e suas afirmações, me fez um jovem diferente dos demais da época. A maioria dos jovens da minha geração se preocupava em adquirir o tênis rebook, o vídeo game mega-drive, a bicicross, horas intermináveis de filmes em seus vídeos-cassetes etc. Esqueciam das partidas de futebol de rua, das grandes jogadas de dama, das pipas, das pescarias, das peças teatrais, dos encontros de fim de tarde para jogar vôlei ou futsal nas quadras de esporte espalhadas pelos bairros, às mudanças dos jovens da época eram visíveis, ou seja, a geração fast-food iniciava-se.
Todos os líderes das escolas públicas e privadas estavam sendo mobilizados e orientados para disseminar a idéia entre os estudantes. A greve teria três pontos de concentração: Praça da Independência, Lyceu Paraibano e Praça São Francisco. O arrastão teria início na Praça da Independência seguindo na contra-mão da Avenida Walfredo Leal no intuito de liberar os estudantes do Colégio Marista Pio X, do Luiz Gonzaga Burity, 2001 – Cepruni, Colégio Objetivo e seguiria para Praça São Francisco, para encontrar-se com os alunos dos Colégios João Paulo II, Nossa Senhora das Neves e o Pio XII, para depois seguir na contra-mão da Avenida Visconde de Pelotas e desceria na Avenida Almirante Barroso, sendo o ponto de encontro, o lendário magazine Mesbla da Lagoa, com os estudantes oriundos da concentração do Lyceu Paraibano, para então, seguir a Praça João Pessoa, sede dos três poderes do Estado.
O cenário todo desenhado na mente dos revolucionários mirins e só faltavam provar na prática a estratégia traçada. A minha mente borbulhava de lembranças vendo Dr. Burity conversando com meu pai, minhas idéias flertavam com suas palavras e sentia que ainda não era o momento para interromper, apenas ouvir, pois aprenderia mais, afinal, não se tratava de dois homens comuns na minha frente, se tratava de um cientista da política e do direito, com sua história de militância política que representou no passado a UDN e a ARENA, ou seja, Dr. Burity, de professor chegou a ser governador pelas mãos da Ditadura Militar. Já o outro, economista e apaixonado pelas causas do homem simples do campo, que em seu passado estava gravado o PSD e o MDB, era o Cel. Lins, considerado marxista, que na sua adolescência teria vendido caldo-de-cana na feira e chegou a ser Comandante Geral da Polícia Militar do Estado da Paraíba, coincidência ou não, ambos eram do Ingá, terra das Itacoatiaras.

Porto Velho, 12 de dezembro de 2010.

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